Você sabia que devido aos
séculos de contato com diferentes frentes colonizadoras é inevitável constatar
alterações que colocam em risco a sobrevivência física e cultural das
populações indígenas do Brasil? Isso acontece porque as terras indígenas sofrem
com o crescimento demográfico, com restrição dos espaços territoriais, pressão
externa acrescida de degradação ambiental, entre outros. Isso implica na
redução significativa do estoque de recursos naturais sob controle dessas
populações.
Deste modo, quando há falta de
alimentos que possam suprir as necessidades alimentares das populações
indígenas, há aumento do uso de insumos externos, com consequente dependência
de produtos industrializados, alterando hábitos de consumo e práticas tradicionais
de produção de alimentos desses povos. Estas transformações as quais os povos
indígenas estão expostos influenciam a qualidade de vida e a segurança
alimentar dessas comunidades.
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é a realização do
direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que
respeitem a diversidade cultural e que seja social, econômica e ambientalmente
sustentáveis.
É perceptível então, que grande parte das populações
indígenas tem o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) afetado; este é
alcançado quando homens, mulheres e crianças têm acesso físico e econômico, em
todos os momentos, à alimentação adequada ou meios para sua obtenção. Assim
podemos concluir que estas populações estão em (In) segurança alimentar, que
também pode ser compreendida como a negação do direito à alimentação saudável e
adequada.
Para avaliar a situação de segurança/insegurança alimentar
existente em diversas populações, é possível citar o método de avaliação da
Insegurança Alimentar, feito através da Escala Brasileira de Insegurança
Alimentar (EBIA) Este método, utilizado por Segall-Corrêa entre alguns grupos
indígenas, classifica a segurança/insegurança alimentar em quatro níveis:
segurança alimentar, insegurança leve, insegurança moderada e insegurança
grave. Tal escala é elaborada a partir de questionário com 15 perguntas
relativas ao medo de passar fome nos últimos 3 meses das famílias
entrevistadas. Em tentativa de mensurar a segurança/insegurança alimentar entre
indígenas do Mato Grosso do Sul, a utilização da EBIA mostrou como resultado
que apenas 24,5% das famílias vivem em situação de segurança alimentar; ainda
pode-se observar outros dados ao analisar o mapa da fome entre os povos
indígenas no Brasil, nos anos 90, das 297 etnias indígenas consultadas, 66,67%
apresentava algum grau de insegurança alimentar, 44% apresentava evidências de fome,
12,79% apresentavam carências alimentares e 9% fome sazonal.
É necessário, portanto, resgatar e propiciar novos conhecimentos
que fortaleçam a segurança alimentar e garantam sobrevivência das futuras
gerações indígenas. Atualmente, as populações indígenas estão se organizando de
forma maciça, formando Comitês, fazendo parcerias, mobilizando suas populações
e buscando cada vez mais informações que lhes sejam benéficas e capazes de
influenciar e melhorar suas condições de vida.
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Acesso em 10 de dezembro de 2012.
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